30 de outubro de 2013
Por Riquieli Capitani
Fotos: Riquieli Capitani e Geani Paula Souza da Rosa
Da Página do MST
“Vocês
Tecnólogos em Agroecologia e militantes da Via Campesina, precisam
sempre se lembrar que a formação técnica e a formação política aqui
recebidas estão sempre a serviço de uma causa, e a nossa grande causa é a
Agroecologia, a educação, a formação e a transformação social”.
Foi
com essas palavras que o paraninfo da Turma Semente Latina, Marcos
Gerhke, iniciou o discurso para os 49 educandos que se formaram em
Tecnólogos em Agroecologia, na última sexta-feira (25/10), na Escola
Latino Americana de Agroecologia (ELAA), localizada no Assentamento
Contestado, município da Lapa, região sul do Paraná.
A terceira
turma de formandos da ELAA, composta por educandos de vários estados
brasileiros, além de outros países como o Paraguai, República
Dominicana, Colômbia e Equador, emocionaram os participantes quando
realizaram o ato camponês, trazendo como símbolo o chapéu de palha, e
fazendo a leitura do discurso em duas línguas: português e espanhol.
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“Queremos
agradecer aos movimentos sociais do campo que conseguiram através de
muita luta construir a ELAA e esse curso. Hoje estamos se formando e se
juntamos com mais força e conhecimento na luta em defesa de um projeto
popular e agroecológico para a América Latina”, leram os educandos
Vagner Wisinheski e Efren Vicente Roman Espinoza.
O curso,
segundo eles, seria como uma semente, que após ser plantada precisa de
vários nutrientes para se fortalecer e gerar frutos. “As sementes, após
começar o processo de germinação, vão encarando cada vez mais de perto
as condições externas da natureza, como sol, chuva, frio, calor,
enchentes, secas. Não foi muito fácil superar os problemas e as
dificuldades, mas com luta baseado nos princípios da agroecologia e da
Via Campesina, encaramos e nos fortalecemos para resolver as
dificuldades, superar os desafios e comemorar as conquistas”.
A trajetória
Em
27 de agosto de 2005, foi implementada a Escola Latino Americana de
Agroecologia na sede do assentamento. Fruto de uma iniciativa entre a
Via Campesina, o governo estadual do Paraná e o Instituto Federal do
Paraná (IFPR), além do apoio do governo da Venezuela.
Representando
o reitor do IFPR, o professor Jesué Graciliano da Silva, Diretor de
Ensino do IFPR do Campus Curitiba, falou do orgulho que o Instituto tem
dos educandos e fez uma recomendação aos tecnólogos brasileiros,
paraguaios, equatorianos, dominicanos.
“Nessa perspectivava e
nessa lógica de integração dos povos, ao retornarem para seus locais não
esqueçam dos valores e técnicas aqui aprendidos, e do compromisso
moral, ético, social e educacional que vocês têm com seus País e seus
povos”.
“Tecnólogos Pedagogos em Agroecologia”
Para
Luiyi Castro, do Equador, o curso superou todas as expectativas. “Foi
para além do que esperávamos. Achávamos que iríamos se formar em
Tecnólogos em Agroecologia, mas nos formamos em Tecnólogos Pedagogos em
Agroecologia, o que significa que aprendemos como trabalhar com o
camponês, valorizando o trabalho que ele exerce”.
Segundo Luiyi,
toda a dedicação ao longo do curso se transfere numa responsabilidade:
seguir em frente na luta pela agroecologia em cada país e no mundo.
Leia mais:Em parceria com Unesp, militantes iniciam primeira etapa do mestrado
Seminário celebra 15 anos de educação na Reforma Agrária
Já
a educanda Franciane Marafon, do Movimento Mulheres Camponesas (MMC) de
Santa Catarina, comenta que continuará atuando para fortalecer o
projeto da Agroecologia na região em que reside, e que essa conquista é
tanto dela quanto do MMC.
“Agora vou continuar atuando no MMC,
vou retribuir a confiança que meu movimento depositou em mim. Hoje sou
graduada graças aos trabalhadores e trabalhadoras dos movimentos sociais
da Via Campesina, que acreditam na Turma Semente Latina. Para nós do
MMC é muito importante essa conquista”.
O curso
O
curso é viabilizado pelo Programa Nacional de Educação na Reforma
Agrária (Pronera) e por recursos dos próprios movimentos sociais.
Os
três anos de duração funcionam por etapas em regime de alternância,
entre tempo escola e tempo comunidade, com uma média de 60 a 70 dias
cada etapa.
“Podemos dizer que aqui no Brasil temos capacidade e
condições de disputar esse projeto dominante, que quer tirar do povo
brasileiro a cultura da agricultura e transformar em negócio. Contra
isso precisamos manter parcerias assim, entre Incra, IFPR e a ELAA. Essa
escola tem contribuído para discutir e fortalecer a agricultura como
patrimônio, como cultura que nós temos que preservar”, comenta a
Coordenadora Nacional do Pronera, Clarice dos Santos, presente na
atividade.
“Aqui
no Paraná, com o Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em
Agroecologia (Ceagro), Instituto Técnico de Educação e Pesquisa da
Reforma Agrária (ITEPA), Escola Milton Santos (EMS), nós temos uma
verdadeira sementeira de formação dos educadores da agroecologia que
depois se espalham pelo país e América Latina, para expandir o projeto
popular e soberano que os movimentos sociais têm para a sociedade”,
acredita.
O ato político reuniu assentados, representantes dos
movimentos sociais, autoridades municipais, estaduais e federais, como a
prefeita da Lapa Leila Klenko, o deputado estadual Tadeu Veneri, Cyro
Fernandes Côrreia Júnior, Superintendente substituto do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), além de amigos e
apoiadores.
Continuando a comemoração, foi servido um almoço com
produtos da agricultura familiar, e para encerar o dia, os participantes
dançaram ao som de músicos locais.
A formatura da primeira turma
de Tecnólogos em Agroecologia ocorreu em junho de 2009, durante a 8ª
Jornada de Agroecologia, que aconteceu em Francisco Beltrão. No total
foram 23 formandos que compuseram a turma batizada de Mata Atlântica. Já
a segunda, turma Resistência Camponesa, com 39 educandos, se formou em
abril de 2010.
“Temos que cuidar da Agroecologia como uma semente
na terra. Cabe agora a gente cuidar atentamente essa semente com
diversos nutrientes que são encontrados no companheirismos,
solidariedade, amor, respeito, determinação, emancipação humana,
igualdade, consciência de classe e para a classe, educação voltada para
as realidades locais e muitos outros nutrientes encontrados disponíveis
em abundância na articulação camponesa internacional, para não deixar
que esse tempo que passamos estudando se torne um tempo perdido em
nossas vidas”, declaram Vagner e Efren ao concluírem a leitura do
discurso.
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