Carta do Irani
Nós, professores,
estudantes e pesquisadores da área de História e demais Ciências Humanas,
participando de três sessões (na UFSC, entre 29 de maio e 1 de junho; na UFPEL,
entre 29 e 31 de agosto e na UFFS, entre 18 e 22 de outubro) do Simpósio sobre
o Centenário do Movimento do Contestado, reunidos ao longo deste ano de 2012,
preocupados com o estado e situação de acervos documentais, locais de memória,
patrimônio histórico e da população remanescente do conflito do Contestado,
alertamos a sociedade civil e conclamamos as autoridades públicas (órgãos de
Patrimônio e Memória, Poder Executivo, Ministério Público e Poder Judiciário,
das esferas municipais, Estaduais e Federal) para:
a). A premência da implementação de políticas públicas de saúde,
educação e terras para a população remanescente do conflito, como forma de
atendimento a cidadãos que, por gerações, estiveram marginalizados dos
benefícios da sociedade brasileira. Considerando que os núcleos de
remanescentes do conflito - e de população tradicional do planalto meridional
em geral - apresentam atualmente os mais baixos índices de desenvolvimento
humano do sul do Brasil (IDH, conforme avaliação oficial);
b). A urgência da defesa dos locais de memória e convivência das
populações tradicionais remanescentes do conflito em Santa Catarina, e em maior
âmbito, dos locais frequentados pelos devotos da tradição de São João Maria em
todo o sul do Brasil. Atualmente muitas fontes de “águas santas”, grutas,
ermidas, cruzeiros, antigos redutos, guardas e cemitérios precisam de defesa
institucional e recuperação e conservação, como locais de visitação, culto,
convivência e pesquisa científica;
c). A necessidade da localização, preservação, guarda e colocação à
disposição de pesquisa de acervos documentais, de origem pública ou privada,
compreendendo todo um repertório (de documentos, imagens, prosa, poesia,
orações, pinturas, esculturas, objetos museológicos, depoimentos orais e peças
audiovisuais) que tenham relação com a Guerra do Contestado e, num sentido mais
amplo, sobre a vida, a sociedade e a cultura do planalto meridional brasileiro;
Acreditamos que é nossa obrigação, como professores, pesquisadores e
estudantes, apontar as questões acima para que nos próximos 100 anos não
tenhamos que lamentar a continuidade de situações de subalterização e
marginalização de nossa pobre população que tanto trabalhou e trabalha para a
edificação da nação.
Irani, 22 de outubro de 2012.
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